miércoles, 20 de junio de 2018

De Moçambique ao Reino Unido a passar por Ayamonte


A nossa simpatizante Sandra Ringler fala da sua experença de vida entre diferentes zonas do mundo Moçambique, Ayamonte na Raia Sul da Península e no Reino Unido onde trabalha com as comunidades portuguesas.
                                                                                                          
A Sandra na entrada do Hotel Polana de Maputo
      


Chamo-me Sandra, nasci em Vila Pery, Moçambique, ainda durante a era colonial.  Devido a situação política do meu país, após a independência de Portugal, a minha família, como milhares de outras, deixou a pátria para atrás.  Por diferentes circunstâncias da vida, fui parar a Ayamonte, uma pequena cidade no sudoeste de Espanha, separada de Portugal pelo rio Guadiana, lugar onde residí por pouco mais de duas décadas.



Viver na outra margem significou estar em contacto com ambas culturas, crescer desfrutando dos dois países. Outro aspecto importante foi, a aprendizagem de uma segunda língua, sendo ainda criança.  Gostaria de recalcar acerca disto pois, devido a semelhança gramatical e léxica do português e do castelhano, foi relativamente fácil, aos dez anos de idade, adquirir uma segunda língua.  Considero isto uma vantagem tremenda para os que vivem em localidades fronteiriças.

Ayamonte- Raia Sul- Andaluzia-Espanha-
O bilinguismo, aumentou o meu potencial a nível acadêmico, desenvolveu bastante a minha personalidade e foi uma base sólida, para dominar outras línguas. De certa maneira, o ser bilingue e absorver uma nova cultura, foi como ter adquirido outra personalidade paralela, algo que abriu-me muitas portas no aspecto professional,  e contribuiu na expansão pessoal.



Anos mais tarde, decidi reiniciar a vida num outro país; as oportunidades não eram muitas tanto em Portugal como em Espanha, levando-me a emigrar para o Reino Unido onde fui bem vinda e valorizada pelas línguas e o conhecimento em diferentes culturas. Trabalhei para a autoridade local, desempenhando várias funções para o departamento de Educação e Crianças, e envolvi-me bastante com comunidades, principalmente com a de língua portuguesa, constituída por milhares de individuos, na cidade onde resido no presente.



Trabalho e trabalhei como professora de línguas extranjeiras; no passado dei aulas para a faculdade local, e impartí cursos de Língua e Cultura para Desenvolvimento Comercial” para algumas universidades no Reino Unido.  Trabalhei também como interprete oficial, para vários departamentos governamentais, e serviços públicos.
Perto da Morada da Sandra atual no Reino Unido

Parte da minha carreira professional é devida aos conhecimentos que absorví de maneira natural no passado; estes, pavimentaram o meu caminho.



Nos últimos anos, estudei Desenvolvimento Internacional e Intervenção em Conflicto e Pós-guerra, e no presente, estou bastante envolvida em política local, no Reino Unido, o que é algo que apaixona-me.  Inclino-me bastante pelas areas de direitos humanos, conflito, e desenvolvimento de sociedades.  Gostaria de contribuir de uma maneira útil, para o futuro da humanidade.



Recentemente vim a conhecer este projeto que está a ser levado a cabo pela Plataforma pela Federação Ibérica, cujo objetivo é lograr uma confederação Ibérica, e sendo as circunstâncias propicias no futuro, chegar a formar uma união federal, respeitando a soberanía de ambos países. 


Pessoalmente, e baseando-me no princípio de pertencer a ambos países, portanto ser Ibérica -   nacional y culturalmente, a ideia de juntar os interesses dos dois países, pareceu-me bastante ambiciosa, mas lógica, pois trabalharía-se pelo benefício dos dois.
Concordo plenamente com o objetivo de incentivar o bilinguismo, igualar os títulos académicos, promover a cultura de ambos países, e trabalhar para o desenvolvimento económico de Portugal e de Espanha; acredito que ambos poderiam beneficiar-se com uma união bem planeiada. 

 Para concluir, e partindo de certa curiosidade por minha parte, realizei um pequeno debate em grupo com  alguns membros da comunidade portuguesa residentes no Reino Unido, e foi surpreendente ouvir várias opiniões acerca do sentimento que partilha-se em relação a Península.  Para um português longe da sua pátria, Espanha chega a ser como a sua segunda pátria; por razões que podem ser histórico-culturais, climatológicas, gastronómicas, ou o conjunto de todas elas.  O estar ausente da terra, faz-lhes apreciar o país vizinho, como um país irmão. 

É a tal saudade!



Sandra Ringler.