lunes, 24 de abril de 2017

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Não ao iberismo? Eu digo não ao ódio.
Resultado de imagen de 25 de abril sempre O 25 de Abril marca o princípio da dolorosa transição do fascismo para a democracia em Portugal. De 1974 a 1986, o meu país viveu um período de incerteza, caracterizado inclusive por alguns ataques bombistas.
 Só com a adesão à União Europeia conseguimos verdadeiramente potenciar a nossa democracia, e só com a abertura da nossa fronteira com a Espanha pudemos (finalmente) começar a descobrir todas as importantes semelhanças que temos com o nosso grande vizinho. Encontro-me, portanto, a reflectir sobre o conceito de "democracia" mais do que para mim é habitual.
Há portugueses que sentem que o 25 de Abril foi a maior tragédia que podia ter acontecido a Portugal. Em que pensam essas pessoas? Estávamos a ganhar a nossa guerra colonial, reinavam a lei e a ordem no nosso país, e íamos transformar-nos numa Suíça, segundo as famosas palavras do antigo primeiro-ministro Marcelo Caetano. Procurando distanciar-me um pouco e pôr as emoções de parte por um momento, consigo reconhecer alguma verdade nas palavras dele. Transformámo-nos num país bastante fraco, comparado com outros. Somos governados por um sistema político que não inspira confiança no povo, que chama "ladrões e gatunos" aos próprios políticos, que pactua com as medidas de austeridade europeias deixando as pessoas mais vulneráveis na miséria, e que não faz o povo sentir-se verdadeiramente orgulhoso do seu país. Pelo contrário; muitos, eu próprio incluido, são obrigados a emigrar. E muitos outros (eu não) dizem abertamente que têm vergonha de serem portugueses. A riqueza económica do nosso país foi reduzida "ao sol, ao turismo e ao servilismo de bandeja", citando Marcelo Caetano. Em muitos aspectos, não somos nem nunca seremos um país verdadeiramente independente.
Dito isto, o fascismo falhou. Porquê? Porque também não era a solução. Porque estava a sufocar o povo. Estava a perseguir as pessoas, a torturá-las pelas suas diferenças ideológicas, e a mandar homens morrer numa guerra ultramarina que eles próprios não desejavam. O fascismo é um sistema opressivo, e portanto insustentável. Mais tarde ou mais cedo, qualquer regime que oprima o seu próprio povo vai falhar. Foi o que aconteceu à União Soviética, à Alemanha Nazi, à Itália de Mussolini, à Roménia de Ceaucescu, à Espanha de Franco, e ao Portugal de Salazar. É por isso que eu não reconheço razão a quem insiste em defender o fascismo.
A conclusão a tirar disto é que as pessoas não são capazes de pensar senão em extremos. Não gostamos de fascismo? Bora para o comunismo! Não gostamos de comunismo? Bora para a anarquia! Não gostamos de anarquia? Bora para... enfim.
Se quem é fascista adora verdadeiramente a sua pátria, então desejaria enviar mais homens para morrer numa guerra longínqua qualquer (seja a nossa colonial ou a do Médio Oriente) contra a sua vontade, suprimir violentamente qualquer oposição ideológica e continuar a explorar desumanamente as colónias? E seriam eles mesmos os que sem hesitar pegariam em armas e arriscariam as próprias vidas pelos seus próprios ideais nas linha da frente? Ou não são suficientemente fanáticos para isso? Eu suspeito que os que mais barulho fazem são os que não lutam e que preferem que outros lutem e morram por eles.
Na realidade creio que os portugueses em geral não são extremistas, e houve inclusive defensores democratas do comunismo, e até mesmo os que propõem um regresso ao fascismo são bastante mais moderados e não desejariam um regime violento como foi o do Estado Novo. Mas também creio que o medo latente de quem não quer o fascismo (ou um comunismo ao estilo de países como a China ou Cuba) seja precisamente esse, o de cairmos no extremismo.
O Donald Trump, o Brexit, a Le Pen, o separatismo onde quer que ele exista, enfim tudo o que seja um movimento político contra o "status quo", é uma manifestação de algo que está errado no sistema do mundo e que precisa de mudar urgentemente. Isso eu consigo compreender perfeitamente. Mas então qual é a alternativa? Vamos para a guerra? Vamos para o ódio? Vamos para a anarquia? Vamos começar a matar toda a gente à nossa volta até fazer valer a nossa perspectiva sobre o mundo? Vamos arrasar a União Europeia? Vamos queimar a Casa Branca? Certo, então e o que é que acontece DEPOIS de tudo isso? Como é que a sociedade se organiza para que não volte a cair na decadência e para que as pessoas não se comecem outra vez a matar umas às outras? Ou é isso o que eles querem, que nos matemos todos uns aos outros?
PAREM com esse discurso de ódio, de guerra, de exclusão do vizinho, de desconfiança sistemática, e de matarmo-nos todos uns aos outros. Vocês, os nacionalistas portugueses, os nacionalistas espanhóis, os nacionalistas catalães, bascos, leoneses, galegos, andaluzes, franceses, britânicos, americanos: PAREM TODOS com esse vosso pseudo-patriotismo belicoso, de uma vez por todas.
Há uma diferença entre patriotismo e nacionalismo. Nacionalismo é "o meu país é o maior e os outros todos não prestam"; patriotismo é "eu amo o meu país e amo também o resto do mundo, e quero viver em harmonia com o mundo inteiro, mas também quero ser respeitado." Eu sou iberista, e o meu patriotismo é tanto por Portugal como pela Ibéria. Rejeito o nacionalismo em qualquer uma das suas formas.
O 25 de Abril acabou com um grande problema e criou outro, levando-nos à beira de nos transformarmos numa ditadura comunista em vez de fascista. E é aqui que eu consigo ver um paralelo entre o meu pensamento e o dos que deploram o 25 de Abril e anseiam por um regresso ao fascismo. Mas a partir daqui as semelhanças acabam; porque eu não quero um sistema no meu país que mata pessoas, oprime o povo e sufoca ideologias (ou etnias). Não quero. Portanto, os que não concordam com o 25 de Abril deverão encontrar outra forma de se exprimir: deverão propor alternativas concretas àquilo que actualmente temos, e deverão parar de espalhar o ódio (ou de escrever coisas que possam ser interpretadas como ódio).
Na França, a Le Pen disse: "o colonialismo deu-nos muito." Há aqui uma falácia. É óbvio que o colonialismo trouxe riquezas inimagináveis ao longo da história a todos os países que partiram à descoberta do mundo. Mas para nós sermos ricos, outros tiveram de ser pobres. Essa é a verdade do colonialismo, que ainda hoje é geralmente ignorada: toda a gente tem um "smartphone" e poucos sabem que alguns dos recursos que são essenciais para produzir esses "smartphones" são produzidos por crianças esfomeadas e esbofeteadas no Ruanda e no Congo. E depois esses recursos vão para a Ásia para a fase de produção. Depois os produtos finais são vendidos no Mundo Ocidental por vendedores que provavelmente prefeririam estar a fazer outra coisa se pudessem, e que ao mesmo tempo se calhar estão a pensar em emigrar. Por isso, para ser minimamente honesta, a Le Pen devia ter dito: "o colonialismo TIROU muito (aos outros, quando lhes roubámos tudo o que tinham)".
Mas o público prefere ignorar estas coisas. Fingir que não é real. Virar a cara para não ver. Ir "passando para baixo" nas redes sociais.
Resultado de imagen de península iberica de noche Falando um pouco de um tema um pouco mais "ligeiro"... No Domingo à tardinha, dois dias antes do 25 de Abril, passei por acaso perto do Bernabéu. O rugido dos fãs era impossível de ignorar, mesmo não sendo eu um aficionado de futebol. Igualmente impossível foi deixar de pensar: "se as pessoas tivessem todo este entusiasmo na política, o mundo seria um lugar muito diferente." Para melhor ou para pior, não sei, mas diferente seria certamente. Portanto não é de admirar que o sistema político do nosso mundo nos queira entretidos a ver futebol, e grandes irmãos, e touradas - ou agarrados aos nossos "smartphones" sino-congoleses. Não é de admirar que eles queiram uma sociedade na qual, quando alguém começa a falar de iberismo, os outros o rotulem como um traidor à pátria. Não é de admirar que eles nos queiram divididos e a queimar as energias uns dos outros com nacionalismos e contra-nacionalismos.
Eu quero uma Ibéria que celebre o carácter cultural único de cada uma das nações da Península Ibérica, não que force a hegemonia de uns sobre os outros. Quero uma Ibéria de irmãos, reconciliados e a trabalhar juntos pelo futuro de todos. Quero uma Ibéria forte e indomável. Quero uma Ibéria de compaixão perante os cidadãos mais vulneráveis, mas sem tolerância para com a corrupção em qualquer uma das suas formas. Quero uma Ibéria onde cada cidadão seja capaz de pensamento crítico, mas sem procurar ofender e magoar o seu vizinho. Quero uma Federação Ibérica que seja um exemplo de democracia e força para o resto do mundo, um novo país que exige (e impõe) respeito ao resto do mundo, que cale as vozes críticas que dizem que não passamos de parasitas que só querem mulheres e vinho, e que nos conhece como porcos (Portugal, Italy, Greece, Spain = PIGS).
Portanto, há bastantes coisas em comum entre o iberismo e os ideais de Abril.
O povo - unido - jamais será vencido!

2 comentarios:

  1. Concordo em absoluto com esta reflexão que em alguns aspectos até me ajudou a perspectivar as coisas e organizar ideias. Obrigada!

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  2. Perdão. Onde se lê "não somos nem nunca seremos um país verdadeiramente indiferente", leia-se "independente".

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